A trajetória até o patamar mais alto do esporte exigiu, desde cedo, grandes decisões de Emanuel Fernando Scheffer Rego. Os livros e o sonho de manejar um estetoscópio deram lugar à bola e às quadras. Depois, o par de tênis e os ginásios saíram de cena para dar vez à ação nas areias sob sol intenso, saindo do conforto de casa para outro Estado. Forjado pelas escolhas que definiram o rumo profissional — e também pelos percalços —, o paranaense chegou ao topo do vôlei de praia mundial. Várias vezes.
Emanuel foi campeão olímpico em Atenas-2004, tricampeão do Campeonato Mundial (1999, 2003 e 2011), bicampeão pan-americano (2007 e 2011), decacampeão do Circuito Mundial e, no total, faturou mais de 155 títulos ao longo da carreira, sendo o atleta mais vitorioso da modalidade, o que o levou ao Hall da Fama e ao status de melhor jogador de vôlei de praia da história. Atravessou gerações, absorveu e compartilhou experiências em duplas e rivalizou com os principais nomes do Brasil e dos Estados Unidos — potências à época.
Para atingir o alto nível, porém, o curitibano precisou abdicar do sonho da Medicina e perceber que não teria muito sucesso no vôlei de quadra. Nas areias, com diversos parceiros ao longo da carreira, conseguiu elevar o nível dos companheiros e acumular conquistas, objetivo que perseguia com mais afinco depois dos tropeços. Nas duas primeiras Olimpíadas, por exemplo, amargou o nono lugar e precisou lidar com as cobranças. Nas três seguintes, foi ouro, bronze e prata.
Casado com a atual senadora Leila Barros, que também foi jogadora de vôlei, Emanuel sentiu o peso do desgaste físico às vésperas dos Jogos Olímpicos Rio-2016, para os quais não conseguiu classificação, e encerrou a carreira — decisão que já rondava seus pensamentos desde 2009.
O zelo em se planejar para as grandes decisões, cultivado desde cedo, levou o atleta a se preparar para a aposentadoria desde o ciclo olímpico anterior, retomando os estudos para exercer outras funções — e não descarta novos cursos. Já foi dirigente do Fluminense, comentarista da Globo e é palestrante. Com planejamento, Emanuel não se furta de explorar novos universos e escolher caminhos para traçar, com a determinação e o espírito vencedor de quem chegou ao Olimpo do esporte.
Embaixador do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e integrante da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Emanuel Rego, hoje aos 51 anos, conversou com O POVO por 40 minutos em passagem por Fortaleza para evento do CBC e revisitou a trajetória vitoriosa, explicou por que o Ceará é um celeiro de grandes nomes do vôlei de praia, adotou modéstia em uma autoavaliação, revelou que o filho mais novo tem se aventurado nas quadras e ponderou que o vôlei brasileiro pode e deve se atualizar.
O POVO - Como surge o esporte na sua vida? O que despertou a vontade de ser jogador de vôlei?
Emanuel Rego - Começou por causa do meu pai. Ele era esportista, jogava futebol e me incentivava a fazer vários esportes. Então, no início, até os 10 anos, eu fiz futebol, handebol, basquete, mas em todos os esportes de contato eu não me identificava muito porque era muito magrinho. Quando eu encontrei o vôlei, que é um esporte que não tem contato com o adversário, aí eu me encantei. É um esporte mais coletivo, você desempenha mais funções dentro da quadra, então esse foi o meu encanto.
A partir de eu começar a fazer vôlei, no colégio onde eu estudava também tinha um grupo e eu não sabia. Eu fazia escolinha num clube e não sabia que os meus amigos de colégio também jogavam. Então eu uni o útil ao agradável, porque tem uma fase que a gente quer ficar perto dos amigos. Os amigos começaram a fazer vôlei e eu continuei. Nisso eu já comecei a projetar o meu destino.
Com 11 anos, eu vi a seleção brasileira ser medalha de prata na Olimpíada de Los Angeles (1984) e sonhei: "Poxa, eu gostaria de ser um atleta olímpico". Então, com 11 anos eu já comecei a imaginar o que eu queria. Segui no vôlei de quadra até os 19 anos, quando eu já tinha contrato com um clube de Curitiba chamado Clube Curitibano, que tinha uma equipe que jogava na Liga Nacional. Eu já estava nesse clube, tinha contrato, só que eu era central. Eu, com 1,90m, acho que meu futuro não seria tão bom.
E aí que eu migrei para a praia. Começou o Circuito Brasileiro em 1991, eu já comecei a jogar as etapas. Jogava junto com um paranaense chamado Clésio, e a gente era muito magro, nosso apelido até era Espeto e Graveto na época, de tão magro que a gente era. Eu me encantei pelo vôlei de praia e dos 19 (anos) até praticamente 2016 segui com intensidade, representando o Brasil etc.
OP - Na transição da quadra para a praia, você teve uma ascensão muito rápida. A que se deve isso?
Emanuel - Primeiro, os heróis que nós já tínhamos. Os grandes exemplos eram os americanos, os brasileiros sempre queriam seguir a escola americana do voleibol de praia, e eles estavam sempre dez anos na nossa frente. Enquanto aqui a gente tinha Franco e Roberto, que era do Ceará; Paulão e Paulo Emílio, da Bahia; Moreira e Garrido... Essa geração desses nordestinos eram, mais ou menos, sete anos mais velhos do que eu.
Então, quando eu comecei, com 20 anos, eles já estavam performando muito em alto rendimento, e eu aprendi muito com eles visionando os americanos, que eram praticamente quatro anos mais velhos que eles. Enquanto os americanos estavam com 30 anos, no auge técnico e de jogo, aí vinha Franco e Roberto e eu aqui (gesticula simulando posições). Então eu tive vários bons exemplos para seguir na carreira e peguei o início do vôlei de praia, isso foi essencial.
OP - Você fala muito em planejamento. Projetava desde o início que queria disputar títulos e ter uma carreira vitoriosa?
Emanuel - É uma excelente pergunta, porque eu sempre me planejei para as coisas. Eu fiz vestibular para Medicina três anos seguidos e não consegui passar. Minha irmã já fazia uma faculdade particular, então meu pai não tinha condição de pagar duas faculdades particulares, e eu me forcei a fazer faculdade só na Federal. No terceiro ano, em 1993, eu cheguei para os meus pais e falei: "Talvez eu não vá passar em Medicina, então vou me dedicar ao vôlei. Se em três anos eu não conseguir nada, volto para fazer uma faculdade".
Foi nesse ano que eu decidi sair de Curitiba para morar em Vitória, no Espírito Santo, para jogar com o Aloísio. Três anos depois, eu já estava jogando com o Zé Marco nas Olimpíadas de 1996. Na minha carreira, eu sempre fui muito de planejamento, de ter objetivos longos. Quando eu fui para a Olimpíada de 1996, eu agradeci meus pais: "Muito obrigado por acreditarem no meu projeto de vida". Porque eles podiam dizer assim, em 1993: "Não, você não vai, vai ficar estudando". Eles acreditaram e, três depois, eu estava nos Jogos Olímpicos.
Diferencial. "Sempre pensei: ‘O que eu preciso fazer para evoluir?’. Esse foi o grande diferencial da minha carreira. Não deu certo aqui? Monto outro projeto e vamos seguir com a experiência que teve. É como se fosse um mutante, né?"
A minha vida sempre foi pautada em planejamento, mas o grande momento que mudou a minha carreira foi quando eu comecei a jogar com o Zé Marco, que foi meu segundo parceiro de alto rendimento pleno — o Aloísio foi o primeiro. Eu comecei a jogar com o Zé Marco em 1995. Eu lembro que ele fazia parceria com o Paulo Emílio e eles tinham sido campeões das últimas etapas do Brasileiro e, por algum motivo, o Paulo Emílio queria voltar para a Bahia para jogar com o Paulão, aí o Zé Marco veio me convidar. "Pô, Emanuel, queria jogar contigo". "Como eu vou jogar contigo? Você acabou de ganhar as últimas três etapas do Brasileiro".
Ali acho que foi a minha virada, porque, quando eu fui para João Pessoa, ali eu lidei com o vento, que é primordial para o vôlei de praia, treinamento físico intenso que a gente fazia, subida de dunas... Ali que eu realmente me tornei profissional e comecei a almejar esses objetivos. No final de 1995, a gente recebeu a notícia que o vôlei de praia participaria pela primeira vez em uma Olimpíada, então foi quando deu para almejar grandes voos no vôlei de praia.
OP - E como foi lidar com essa decisão entre ser médico e jogador de vôlei de praia?
Emanuel - É que eu sempre fui muito dedicado, sempre gostei muito de estudar e sempre via com muita tranquilidade o estudo. Para mim, tomar essa decisão foi difícil também, porque foram questões de insucesso. Você vai vendo que... Eu sempre tive uma autoavaliação muito boa. E quando eu avaliei que talvez eu não poderia ser o que eu queria... O meu primeiro sonho era ser pediatra. Não deu certo. Acho que isso também foi importante para eu focar toda a minha energia no voleibol. "Já que é a única opção que eu tenho...", então, eu foquei toda a minha energia.
Isso eu acho que foi um diferencial, porque, no início da carreira, eu fui treinar com o Aloísio e ele era dez anos mais velho que eu: eu tinha 20, e ele tinha 30. Então eu comecei a entender como é a longevidade. "Se eu quero ser um atleta que joga por muito tempo, tenho que ser melhor que ele, treinar mais que ele, dormir mais que ele". Então, eu fui me preparando, como se fosse um planejamento de empresa mesmo, pensando na parte financeira, na parte de descanso. O fato de eu ter tido insucessos no vestibular fez com que eu tivesse força total para ter sucesso na segunda escolha. Na segunda vida, vamos dizer assim.
OP - O começo do vôlei de praia em Olimpíadas não teve medalhas, o que gerou pressão sobre vocês. Como foi administrar isso?
Emanuel - Eu sempre tive uma visão a longo prazo, acho que isso foi o grande diferencial da minha carreira. Eu sempre quis ter parceiros longevos, de mais de três anos, para a gente passar por umas dificuldades para depois ter momentos de felicidade. Como na minha carreira sempre foi assim, saber que o insucesso faz a gente melhorar, esse insucesso na Olimpíada de 1996 fez com que eu tomasse outras mudanças. A primeira deles, eu e o Zé Marco fomos convidados para jogar nos Estados Unidos. Eu falei para mim mesmo: "Pô, os americanos foram ouro e prata em Atlanta. Vou lá jogar com eles para aprender".
Então, eu sempre tive a mente aberta do aprendiz, para sempre me testar e melhorar. Fui para os Estados Unidos, passei três anos e isso foi um diferencial, porque aprendi um pouco mais do treinamento muito específico para a excelência que os americanos têm. Isso eu adotei no meu estilo de vida. Isso também foi outro ganho. Ir jogar com o Zé Marco foi o primeiro e o segundo foi ter ido morar nos Estados Unidos. Eu aprendi a ser mais direto, mais objetivo, não sentir tantas emoções como sentia. Foi uma preparação muito boa.
OP - Entre tantas parcerias, você formou uma dupla muito vitoriosa com o Ricardo. Por que deu tão certo?
Emanuel - A gente tinha um respeito mútuo. A gente respeitava muito os objetivos de cada um. E a gente fez um código que quando estava lá em João Pessoa, treinando, a gente não falava de questões pessoais, sobre família, nada, para deixar esses assuntos somente quando a gente estivesse viajando, porque o desgaste de viagem é muito grande. A gente jogou praticamente dez anos juntos, então a gente tinha esse respeito mútuo.
E uma coisa que a gente sempre conversou: nosso objetivo era ganhar todo jogo. Quando você tem uma parceria que tem o mesmo objetivo, as coisas ficam mais clara. E o Ricardo, em 2000, tinha sido medalha de prata na Olimpíada de Sydney (em dupla com Zé Marco), e eu tinha ficado em nono (lugar). Esse insucesso fez com que a gente montasse uma equipe muito profissional. Quando a gente sentou para conversar, eu falei: "A gente vai ter que correr atrás de uma preparação psicológica, organizar nosso sistema de treinamento, ter mais pessoas na comissão técnica".
Quando eu jogava com o Zé Marco, era só eu, o Zé Marco e o técnico. Quando a gente ia fazer um treinamento de defesa para o Zé Marco, eu ficava atacando, eu corria atrás das bolas. E com o Ricardo, a gente tentou moldar isso como se fosse uma equipe. Então nossa equipe técnica tinha mais sete pessoas, tinha essa questão psicológica, tinha estatística dos jogos, que a gente nunca tinha abordado no vôlei de praia... Então eu e o Ricardo trouxemos muitas inovações, que traziam menos responsabilidade para a gente, a gente ia só jogar. Tinha fisioterapeuta que cuidava da gente... A gente usou outras pessoas para deixar a gente no alto rendimento pleno. Então foram escolhas profissionais, como se fosse montar uma equipe profissional mesmo.
OP - Como atleta, de que forma você lidava com a pressão psicológica dentro e fora das quadras?
Emanuel - A pressão é natural e acontece em todos os momentos. Mas o jogador de vôlei de praia e qualquer outro atleta vai maturando. Primeiro, ele é campeão brasileiro, depois campeão sul-americano, pan-americano... Então, ele vai criando uma capacidade de aguentar qualquer tipo de pressão. Isso aconteceu muito comigo. Talvez até esse início de carreira já foi assim, de ter que tomar muitas decisões difíceis: sair do vôlei de quadra para o vôlei de praia; sair de Curitiba, onde estava toda a zona de conforto, e ir para Vitória; depois das Olimpíadas de 1996 ir para os Estados Unidos...
Então, eu sempre lidei bem com essas mudanças, porque sabia que as mudanças eram essenciais para a minha evolução. Eu sempre pensei: "O que eu preciso fazer para evoluir?". Esse foi o grande diferencial da minha carreira. Não deu certo aqui? Monto outro projeto e vamos seguir com a experiência que teve. É como se fosse um mutante, né? A pessoa vai mudando, se adaptando e sempre evoluindo.
Essa foi a minha característica. Tanto é que depois que eu encerrei minha carreira, me formei em Marketing também, fiz Gestão Esportiva, trabalhei no Fluminense, então fui sempre fazendo coisas diferentes por causa desse quesito da capacidade de se adaptar a momentos diferentes.
OP - O ouro olímpico foi importante para impulsionar o vôlei de praia no Brasil?
Emanuel - Tenho certeza disso, que o ouro no masculino, meu e do Ricardo, transformou em respeito tudo que a gente buscava. Acredito que eu e o Ricardo também fizemos mudanças no legado do vôlei de praia. Se hoje você vê uma dupla que o bloqueador é alto e o defensor, atrás, é baixo, é muito desse modelo que a gente criou. Quando eu jogava com o Loiola, eu tinha um 1,90m e ele tinha um 1,90m, a função era mais de atacar e bloquear, a gente não pensava nem em defender. Quando jogava com o Zé Marco, eu e ele tínhamos 1,90m, mas com o Ricardo, a gente montou um modelo que se repetiu no mundo todo.
Hoje, no jogo feminino, tem uma bloqueadora alta e uma defensora. Acredito que esse legado a gente deixou, deixou também esse legado de infraestrutura de equipe, quem fazia isso também era só a Shelda (Bedê, cearense) e a Adriana (Behar) nessa época e tinham sucessos estrondosos. A gente criou modelos que hoje são repetidos. Hoje, qualquer equipe tem sete pessoas na comissão técnica. A gente deixou legados importantes para o esporte.
E acho que essa medalha de ouro foi importante também porque a gente não sabia muito bem qual era o modelo de treinamento para os Jogos Olímpicos, mas, depois daquilo, deixou muitos artigos científicos, a própria Joice Stefanello, que fez um trabalho conosco dessa parte psicológica, escreveu um livro, deixou legado, o próprio Cajá e o Rossini, que eram nosso técnico e preparador físico, deixaram também homologado, porque o Cajá era professor na Universidade Federal da Paraíba... Então, hoje, se alguém quiser treinar para os Jogos Olímpicos, está tudo ali delimitado, coisa que antes não tinha. O Oliveira, que é treinador da Duda e Ana Patrícia, daqui do Ceará, tem também essa base científica muito boa. O esporte evoluiu depois dessas medalhas, tanto em 2000 quanto em 2004.
OP - Por que o Ceará é um celeiro de grandes nomes do vôlei de praia?
Emanuel - Primeiro é o clima, segundo, a dificuldade do vento — o vento faz com que a gente se torne atletas tecnicamente mais desenvolvidos — e a raça. Todos os cearenses que eu lembro são muito raçudos, gostam de jogar, gostam de disputar, e isso é importante no nosso esporte. Nosso esporte é difícil. É muito difícil jogar vôlei de praia: tem a areia, que te segura, tem o vento, tem o sol, são duas partidas por dia, você pode jogar até sete partidas num fim de semana... Então é um esporte difícil.
Quem tem essa raça e acredita é um diferencial. Acredito que o povo cearense tem muito disso. No vôlei de praia, eu vi muito o Márcio (Araújo), o Reis, que jogava também, a Juliana e a Larissa, que treinavam aqui... Tem uma bagagem de nomes muito fortes para dizer.
OP - Em Paris, Ana Patrícia e Duda conseguiram ser campeãs no vôlei de praia. Qual a importância desse título para a modalidade?
Emanuel - Importantíssimo valorizar essa medalha de ouro da Duda e Ana Patrícia, porque elas trouxeram elementos diferentes do que vinha sendo feito. As duas se propuseram a morar em Uberlândia, uma cidade do interior (de Minas Gerais), não é cidade de praia, mas em uma infraestrutura muito produtiva, que foi trabalhar dentro do clube, do Praia Clube. Esse já foi um rompante, uma mudança de perspectiva. Você sair do vôlei de praia, onde os atletas estão acostumados a irem para a praia, montarem sua própria estrutura... Você entrar uma estrutura do clube, isso vai ser o futuro do voleibol de praia.
Os atletas mais jovens, que hoje têm 17, 18 anos, não têm muito recurso para montar sua estrutura, então elas mostraram: o caminho é se filiar a um clube, que lá tem infraestrutura para seguir. Então elas são o perfeito exemplo do que vai ser o vôlei de praia no futuro. Elas deixaram um legado da nova perspectiva. Isso vai facilitar bastante.
Eu sempre senti a dificuldade de um atleta jovem: como é que ele vai começar? Como ele vai ter recursos para bancar uma comissão técnica, bancar material esportivo? Por isso que eu valorizo muito a medalha de ouro delas, elas trabalharam muito, tinha a comissão técnica, levaram o próprio fisioterapeuta do Praia Clube para os Jogos Olímpicos, enquanto as outras duplas utilizavam a estrutura da Confederação Brasileira (de Vôlei)... Elas fizeram escolhas muito positivas, na minha visão, e que vão ser importantes para o futuro do vôlei de praia.
OP - Antes da Olimpíada, você fez uma análise que o vôlei de quadra feminino deveria chegar ao top-3 e que o masculino teria mais dificuldades pela reformulação. A previsão se confirmou. Como avalia o cenário do vôlei de quadra brasileiro?
Emanuel - Nós tivemos um momento muito vitorioso de 2002 até 2016. Nós tivemos um momento brilhante do voleibol, que todo mundo gostou e gosta. Acredito que os outros países também aprenderam a imitar o Brasil. Coisas que a gente fazia a mais, que era treinamento físico, coletivo, hoje as outras equipes estão fazendo. Talvez nesses próximos ciclos a gente tem que rever esse conceito e trazer algo novo.
Acredito que o modelo construído foi um modelo de sucesso, que precisa de algumas mudanças. E talvez sejam mudanças de comportamento dos próprios atletas. Nós estamos partindo para a terceira geração de atletas e é uma geração que se acostumou a ser vencedora, mas eles agora é que têm que ser vencedores. A minha visão é que a CBV já está se preocupando com isso, como vai ser o ciclo, quais as mudanças na gestão técnica para atingir novamente os resultados.
E no masculino do vôlei de praia, acredito que é isso também. Nós temos que estar mais dispostos a jogar mais fora, jogar os campeonatos europeus. Os europeus hoje fazem o que nós fazíamos há duas décadas. A gente tinha 20 campeonatos no Brasileiro, depois ia para o Circuito Mundial e jogava mais 20 etapas... Então a gente jogava muito. Hoje a gente está jogando menos, só tem dez etapas do Brasileiro e as seis, sete do Circuito Mundial. É pouco. Lá, eles (europeus) jogam essas etapas europeias, conseguem jogar nos outros países, que são próximos, então estão tendo uma competitividade maior.
Cearenses."Todos os cearenses que eu lembro são muito raçudos, gostam de jogar, gostam de disputar, e isso é importante no nosso esporte"
OP - Às vésperas da Olimpíada de 2016, você decidiu se aposentar. Como maturar essa decisão?
Emanuel - Esse é um dos piores momentos da carreira do atleta, essa decisão de parar de competir. É a pior delas. Mas eu já vinha me preparando há um tempo. Meu primeiro pensamento em parar de jogar tinha sido em 2009, depois dos Jogos Olímpicos de Pequim, então eu já estava mais ou menos preparado. Aí veio o Alison, que a gente formou um projeto muito bacana, de mais ou menos três anos, fomos muito bem sucedidos, então adiei um pouquinho a minha aposentadoria.
Mas, em 2011, eu já pensando: "Pô, daqui a uns dois anos eu vou me aposentar", já entrei na faculdade, fiz o curso e tentei fazer as duas coisas ao mesmo tempo: estudar, preparando já uma segunda carreira, e continuar (no vôlei). E digo: é possível. Tanto é que a preparação para os Jogos Olímpicos de Londres, eu estava estudando e me formei em 2014. Então em dois anos da minha preparação olímpica, eu estava também estudando.
Eu sempre me planejo com antecedência. Quando eu me aposentei, em 2016, já era formado em Marketing, já estava fazendo um curso de Gestão Esportiva, tinha feito cursos de transição de carreira, então me preparei para esse momento. Quando eu e o Ricardo não classificamos para as Olimpíadas de 2016 — a gente ficou 200 pontos atrás do Pedro e do Evandro, na época —, foi uma tristeza, mas eu falei assim: "Poxa, pelo menos eu encerrei". Eu estava com 43 anos, jogando com atletas que tinham 24... O Evandro acho que tinha 24, 25 anos naquela época. Então para você ver a diferença... Eu estava praticamente duas gerações na frente dele.
Eu fiquei feliz por, pelo menos, aos 43 anos, conseguir competir plenamente com ele. A decisão de parar é difícil, mas eu falei: "Daqui para frente, é mais esforço", talvez meu corpo não ia dar (conta). Foi por isso que eu decidi parar no Rio de Janeiro, naquela etapa. Era a última etapa classificatória para os Jogos Olímpicos. Um momento difícil, um momento difícil. Não é fácil, não é fácil. Mas eu estava já com uma segunda vida quase preparada para acontecer.
OP - O fato de ter a presença da torcida deixou a decisão mais fácil ou mais difícil?
Emanuel - A gente tem consciência do nosso rendimento, né? A gente sabe... Não conseguia sacar tão forte como antes, não saltava tanto quanto os outros, usava muito a experiência estratégica... Mas já dava para ver que eu só ia sofrer a partir dali, talvez, se continuasse jogando. Mas a torcida sempre apoia. "Pô, continua".
Até hoje, às vezes, eu encontro com as pessoas e elas falam: "Você podia estar jogando ainda" (risos). Aí eu digo: "Tem que deixar o espaço para a nova geração também". Mas a torcida brasileira sempre me apoiou bastante, sempre tive uma gratidão plena por tudo que eles me ajudaram. Tem certas horas que você está no saque, esperando, e escuta alguém gritando "ace", parece que te joga uma energia para conquistar.
OP - O fato de não conseguir repetir o desempenho de outros momentos, em meio aos pensamentos de encerrar a carreira, afeta a parte psicológica do atleta?
Emanuel - Aí você vai trazer uma questão que acontece muito hoje: qualquer resultado negativo que acontece hoje, que algum atleta tem, ele desaba o emocional. Eu sempre construí a minha carreira em cima de alguns pilares que são fundamentais: primeiro, a família; depois, a parte financeira; depois, a parte social; e a parte mental. Essas coisas influenciaram muito na minha carreira. Eu sempre pensava: "Vou ficar um pouco com a minha família, escutá-los, tenho que cuidar da parte financeira"... Acho que esse tripé é importante para, quando você tem um insucesso, você estar resguardado.
Quando eu cheguei nesse momento de decisão de parar de jogar, esses outros pilares me sustentaram, coisas que, muitas vezes, os atletas hoje em dia não têm. E quando não tem, desaba completamente, aí não tem o que segure. Eu tive sempre muito apoio, minha família foi muito boa para me dar noção de tempo.
Eu lembro de uma conversa, estava com 17 anos, quando a gente foi jogar o primeiro campeonato, em 1991, eu e o Clésio, lá no Rio de Janeiro, meu tio, irmão do meu pai, chegou para mim assim: "Você sabe que a carreira de esportista é curta, né? Tem dez anos só". Foi a primeira vez que alguém me colocou uma visão de futuro. Aí eu fiquei pensando: "Pô, dez anos... Se eu tenho 17, com 27....", aí que eu comecei a analisar. Alguém deu uma dica que eu, pelo menos, consegui enxergar o meu futuro. Isso foi importante para eu construir 25 anos de carreira no alto rendimento pleno. As dicas que eu recebi, eu soube usar.
OP - Assim como foi tricampeão mundial, pensa em fazer três cursos? Já estudou Marketing e Gestão Esportiva...
Emanuel - Te dou notícia ano que vem (risos). Eu acredito que o conhecimento faz a gente se tornar uma pessoa diferente. E eu nunca quis ser conhecido como ex-atleta, não queria sentar aqui com você e falar sobre a minha carreira, do que eu conquistei. Eu quero falar do que eu estou fazendo e do que eu estou conquistando, esse sempre foi o meu plano. Eu tenho novidades, mas para 2025. Eu não quero ficar parado.
Poxa, tive tantas oportunidades com o esporte, convivi com tantas pessoas bacanas, igual ao Lars Grael, tem tantas experiências bacanas de vida, o próprio André Heller, medalhista olímpico também, então cada um tem experiências que são únicas. Eu aprendi muito com eles também. O meu desejo é sempre continuar aprendendo. Hoje eu estou no Comitê Brasileiro de Clubes, que é um dos comitês que mais consegue empregar o recurso público para ajudar o atleta diretamente, e eu estou muito feliz por estar nesse processo junto com eles.
Eu sei que os atletas hoje, lá no Pinheiros, ou aqui no BNB, estão recebendo esses recursos para poder melhorar, coisa que eu não tive. Eu fui realmente na coragem, fazendo, ficando sem dinheiro nenhum e tal. Eu lembro que o meu primeiro patrocinador, quando cheguei em Vitória, era de R$ 1 mil. O Aloísio ficava com R$ 750, porque ele cuidava da alimentação, e eu ficava só com R$ 250, então tinha que viver com aquilo. Muito no sofrimento. Hoje os atletas têm condições de ter um Bolsa Atleta, ter os patrocínios dos seus Estados, as Forças Armadas têm um projeto, tem o CBC... É só o atleta querer e fazer parte desses grupos. Não adianta só ficar reclamando, tem muita coisa feita.
OP - Além dos cursos, você também foi comentarista da Globo em Olimpíadas e tem sido palestrante. Como têm sido essas experiências em novas áreas?
Emanuel - Essa foi minha terceira oportunidade em Jogos Olímpicos (como comentarista): eu fiz Rio-2016, Tóquio-2020 e, agora, Paris-2024. Ser comentarista é muito difícil, porque você tem um espaço de um rali para o outro, que dura 12 segundos, tem a parte do narrador, que pega um pedaço, então você tem um espaço crítico que tem que falar uma coisa que você, como esportista, viu, que a pessoa que está em casa consiga ver e que ele se encante pelo teu esporte. Então é um misto de você também... Eu sou um vendedor do vôlei de praia.
A cada jogada, eu estou ali vendendo o meu esporte. Eu encaro assim. Eu não estou me vendendo, estou vendendo os protagonistas do Brasil, que são aqueles atletas. Eu acho difícil, mas também no meu handicap eu tenho duas medalhas de ouro, né? Medalha de ouro do Bruno (com Alison), em 2016, e medalha de ouro da Duda (com Ana Patrícia), e também a medalha de prata da Ágatha e Bárbara. Então quer dizer que, em três Olimpíadas, eu consegui contribuir para que três medalhas aparecessem.
Com relação às palestras, eu acho que sempre tenho uma mensagem a passar. Quando a gente tem uma mensagem positiva a passar, as pessoas querem ouvir. Minha vida não foi só alegria. Eu tive momentos difíceis, mas o que importa para as pessoas é saber como deu volta por cima. "Como que ele saiu do momento difícil em 2000, que queria parar de jogar, para ser campeão olímpico em 2004?".
Essas histórias que valem a pena ser contadas, e o esporte tem muito dessas histórias. Eu estou nessa parte de palestrante mais como um storyteller, um contador de história. "Eu fiz isso. Talvez para você não dê certo, mas para outras pessoas...". E eu fico feliz em poder encantar as pessoas. Quando a gente conta uma história nossa, a gente meio que fala: "Poxa, eu também posso fazer isso". Ou então alguém se encaixa, se enquadra com alguma parte minha história, e isso faz com que ela se motive.
Aposentadoria. "É um dos piores momentos da carreira do atleta, essa decisão de parar de competir. É a pior delas. Mas eu já vinha me preparando há um tempo"
OP - Com o trabalho no Comitê Brasileiro de Clubes, você dá palestras pelo País e acaba sendo uma referência para atletas que estão começando...
Emanuel - Essa é a grande responsabilidade do campeão ou do medalhista: ele tem que entender que, a partir daquele momento, ele não é uma pessoa que a vida não é conhecida pelos outros. Ele é uma referência mesmo. E eu sempre tive essa preocupação: "O que as pessoas vão me ver? Qual o modelo que eu gostaria de ver?". Eu criei uma responsabilidade comigo mesmo.
Eu lembro que na semifinal de Atenas, a gente foi jogar contra um time da Suíça (Kobel e Heuscher), um jogo difícil, eu e o Ricardo. Foi 2 a 1, muito difícil esse jogo. E, naquele momento, o time da Suíça estava muito bem, a gente esperava que ia cruzar com eles na final, então foi um jogo muito duro. Mas antes dessa final, eu falei: "Universo, se eu for medalhista, eu vou ser responsável pelos meus atos, vou dar bons exemplos, vou criar uma situação para que as pessoas me sigam".
Então eu criei um objetivo para mim mesmo. Depois que eu fui campeão olímpico, eu vi que muitas pessoas querem ouvir a gente, querem entender por que, como, o que você fez de diferente, quais são os desafios. Ser um medalhista ou ser um campeão, você é um exemplo de vida. Eu tento fazer com que as pessoas sigam bons exemplos, essa é uma das missões dos campeões.
OP - Faltou algo na sua carreira?
Emanuel - Poxa... (pausa). É que é fácil você olhar para o passado, né? É igual você ir ao museu e olhar assim: "Poxa, essa arquitetura poderia ser diferente". Mas eu acho que para cada momento que eu vivi, eu dei o meu melhor e consegui atingir quase 100%. O 100% é quase impossível. Mas eu acredito que tive uma carreira muito sólida, tive ótimos parceiros, ótimos técnicos.
Acredito que consegui fazer com que todos jogassem bem do meu lado também, praticamente fui vitorioso com todos os parceiros que eu joguei... Acho que não faltou nada. Patrocínio, sempre tive patrocinadores, bons patrocinadores, apoio da família, dei orgulho para as pessoas... Todo mundo pergunta isso: "Você não queria voltar a jogar?".
Tudo que eu fiz, eu completei. Hoje, no meu corpo, sou um cara super-saudável, não sinto dor nenhuma, não tenho lesão crônica nenhuma. Acreditava no treinamento, sempre levei a sério. Quando eu estou na academia, estou na academia; quando eu estou treinando na praia, estou treinando na praia. Então acho que isso também foi um diferencial da minha carreira.
OP - Você foi o melhor da história do vôlei de praia?
Emanuel - (pausa) Hum... Acho que só os números. Tem que ver os números. Os números podem dizer (risos). É porque muitas vezes... E assim, eu não era o mais forte, não era o mais alto, não era o que corria mais, mas eu tinha algumas coisas que... Um pouquinho de cada coisa me agregava. Os números são bem consistentes, bem consistentes.
Meu grande objetivo era bater o Karch Kiraly, que tinha ganho 148 (títulos). Toda hora, quando eu estava nos Estados Unidos, tinha lá: 148 títulos, 148 títulos. Falei: "Cara, tenho que passar esse cara aí". Quando eu consegui 155 títulos, falei: "Agora posso dizer que eu deixei uma marca". Está marcado o meu nome. Daí comparam: "Ah, mas ele tem três ouros olímpicos". É, mas dois são da quadra e uma da praia. Essas comparações são feitas, mas os números dizem que tem boas coisas (risos).
OP - Você teve uma carreira extremamente vitoriosa, a Leila, sua esposa, também teve sucesso no vôlei. Tem mais alguém da família querendo ir para o esporte?
Emanuel - Pois é... Pô, vocês fazem boas perguntas, hein? São bons pesquisadores. Meu filho mais velho jogou no Flamengo, vôlei de quadra, até praticamente chegar no adulto, daí ele decidiu seguir... Hoje ele é fisioterapeuta, tem mestrado, já está quase no doutorado na Fisioterapia, já tem clínica lá no Rio de Janeiro, está com 26 anos. Então esse está encaminhado. O segundo, que é filho já com a Leila, tem 14 anos, joga os Jogos Escolares, está naquela fase de entender o que é o esporte. Tem uma paixão plena pelo Ishikawa, que é o ponteiro do Japão, gosta muito desse jogador. Está se encantando com o esporte.
OP - Além das Olimpíadas, quais outros momentos marcantes da carreira você não esquece?
Emanuel - A primeira vez que eu ganhei uma etapa no Brasil, lá em Copacabana, jogava com o Zé Marco, esse momento para mim... Pô, lembro como se fosse hoje. Era a primeira vez que eu ganhava dentro do Brasil, uma etapa do Circuito Mundial, era a primeira vez que eu jogava uma final para mais de 12 mil pessoas... As arquibancadas, naquela época... Tinha torcida, tinha muita coisa, atividade. Então ali marcou bem.
E foi contra a dupla Loiola e Anjinho, que estavam jogando o circuito americano e vieram para representar o Brasil, então a gente fez um encontro de brasileiros. Essa etapa, para mim, foi importantíssima, porque eu ganhei no Maracanã do vôlei de praia, que é Copacabana. Muitas memórias positivas marcaram ali. Nós estamos falando de 1997, eu tinha 24 anos quando isso aconteceu.
E a segunda maior foi quando consegui ser bicampeão pan-americano, em 2007, com o Ricardo, no Rio de Janeiro também. E eu lembro que a gente ganhou, acabou o jogo umas 16 horas, e 19 horas a gente já estava no aeroporto para pegar um voo para a Suíça para jogar o campeonato mundial. Para mim foi bem marcante essa situação, porque a gente ficou na arena, tomei banho na arena, nem fomos para o hotel. Foi muito bacana. E ganhei a segunda vez com o Alison, em 2011.
Tem também tricampeão mundial, um com cada parceiro — um com Loiola, um com Ricardo e um com o Alison... Então cada detalhezinho assim vai trazendo boas memórias.
OP - Entre o seu início e o auge, tinham muitas duplas de alto nível, com boas rivalidades. Essa disputa acirrada elevava o nível de vocês?
Emanuel - Esse aspecto é importantíssimo. Eu agradeço muito aos meus rivais, porque no vôlei de praia você joga praticamente todo fim de semana contra as mesmas equipes e todo fim de semana você tem que trazer algo novo, tem que estar sempre mudando. E esses rivais foram fantásticos.
Eu lembro muito bem do Márcio e Benjamin, dupla que era difícil de jogo, sempre estava mudando, os dois eram muito técnicos, levantavam muito bem; lembro também do Franco e Roberto, quando jogava com o Zé Marco... Puxa, jogo de muita energia, os dois eram de muita energia; lembro do Todd Rogers e Phil Dalhausser, os americanos... Cara, um jogo duro o tempo inteiro, sabe? Testando a gente no limite, ganhava sempre por um ou dois pontos de diferença. No começo perdia sempre do Moreira e Garrido. Sempre perdia, não ganhava deles de jeito nenhum.
Então esses caras que iam nos levando num outro nível. Tem uma fase que eu joguei com o Tande, que era Loiola e Ricardo... Pô, dupla fortíssima também. Quando eu joguei com o Loiola, era Pará e Guilherme, do Rio de Janeiro. Então, se eu for lembrar de todos eles, cada um vez uma contribuição na nossa evolução como atleta. Acho que o esporte é bom porque tem essa rivalidade. Se não tivesse rivalidades, todo mundo ficava jogando igual, do mesmo jeito.
OP - Em momentos de maior visibilidade do vôlei de praia, o público questiona bastante como países que não têm litoral conseguem ter sucesso no esporte. Como você explica isso?
Emanuel - Eu acredito que se você conseguir treinar na praia é melhor. Eu sempre treinei na praia, treinei em vento, treinei na chuva, treinei em diversas situações, para quando chegar na hora do jogo, a gente ir lá e performar, porque você não tem como escolher. Está jogando na Suíça e está chovendo. "Ah, não treinei na chuva, então vou jogar mal". Isso favorece muito quem está na beira-mar. Quem está na beira-mar tem vento, mudança de temperatura, mudança de tudo. Eu prefiro.
Mas criaram-se modelos de treinamentos que são repetitivos, né? Nós estamos falando de países como Suécia, Noruega, Catar, Alemanha... Eles importaram a nossa tecnologia, importaram profissionais nossos. Muitos técnicos brasileiros foram para esses países e deixaram nosso modelo. Então talvez seja a hora também de a gente importar alguns treinamentos diferentes.
Essa troca... Em 1996, quando os Estados Unidos foram campeões olímpicos no masculino, todo mundo ia treinar lá. Os europeus iam treinar lá durante cinco, seis anos. Quando nós fomos campeões olímpicos, todo mundo vinha para o Rio de Janeiro, treinar com os técnicos brasileiros. E agora? Noruega foi campeã olímpica, todo mundo foi treinar na Europa. Eles têm um centro de treinamento, acho que é no Egito e em Tenerife (na Espanha). Agora os campeões olímpicos foram os suecos, todo mundo quer aprender qual a tecnologia, o que eles estão fazendo de diferente.
O vôlei atual é só de bola "chutada", bola por trás, bola rápida, bola de segunda... Eles estão jogando realmente um estilo de jogo diferente do nosso. Talvez é a hora também de a gente se adaptar. A gente se adaptou aos americanos, os americanos se adaptaram aos brasileiros, agora a gente tem que se adaptar a esse modelo europeu.
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O evento do Comitê Brasileiro de Clubes em Fortaleza, no fim de agosto, contou também com o ex-velejador Lars Grael e o ex-jogador de vôlei André Heller, além de Emanuel. A palestra no BNB Clube contou com quase 500 participantes, entre dirigentes de clubes, atletas e personalidades do mundo esportivo
Ao final da entrevista, antes de posar para mais fotos, Emanuel relembrou um caso em que ele e Ricardo foram abordados por um repórter, que parabenizou a dupla por já ter tatuado os anéis olímpicos após a conquista em Atenas. O detalhe é que a imagem era de um patrocinador esportivo
O ex-jogador de vôlei recebeu a equipe do O POVO no lobby do hotel onde estava hospedado, na Praia do Futuro. No deslocamento para o restaurante ou para a área da piscina, os hóspedes e visitantes avistavam Emanuel e aguardavam uma oportunidade para pedir uma foto com o campeão olímpico — sem interromper a entrevista
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