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Herpes-zóster cresce no Brasil, mas SUS ainda não oferece vacina
Reportagem Especial

Herpes-zóster cresce no Brasil, mas SUS ainda não oferece vacina

Imunização é encontrada apenas no mercado privado e pode custar até R$ 1,7 mil. Doença tem se tornado cada vez mais comum no Brasil após a pandemia de Covid-19, principalmente entre pessoas idosas — com efeitos na qualidade de vida, funcionalidade e autoestima

Herpes-zóster cresce no Brasil, mas SUS ainda não oferece vacina

Imunização é encontrada apenas no mercado privado e pode custar até R$ 1,7 mil. Doença tem se tornado cada vez mais comum no Brasil após a pandemia de Covid-19, principalmente entre pessoas idosas — com efeitos na qualidade de vida, funcionalidade e autoestima
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Aviso: esta reportagem não utiliza imagens fortes, mas o texto possui ilustrações e registros de sintomas de herpes-zóster (HZ) que podem ser sensíveis para algumas pessoas. Lembre-se: somente médicos devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. Por isso, em caso de suspeita de HZ, os medicamentos citados pelas fontes não devem ser utilizados sem a consulta a um especialista.

 

 

Aos 70 anos, a professora aposentada Elenice Cerrini nunca tinha ouvido falar em herpes-zóster (HZ) até o dia em que uma dor intensa embaixo do seio esquerdo a levou ao hospital.

“De início, achei que fosse por causa do sutiã novo que tinha usado. Era bem lindo, da Victória’s Secret, e eu tinha acabado de inaugurar. Coloquei numa quinta-feira e na sexta já comecei a sentir uma dor. Pensei ‘bom, é desse sutiã novo’, porque a dor era embaixo do seio indo para as costas, sabe? E era em linha reta, a sensação de um fio desencapado”, conta.

A sensação da professora acontece porque a HZ se manifesta por vesículas (pequenas bolhas de água menores que 1 centímetro de diâmetro) que se agrupam e se distribuem de forma linear ao seguir o trajeto de um nervo.

As lesões ocasionadas pela herpes-zóster em Elenice surgiram abaixo do seio e se estenderam até as costas(Foto: Elenice Cerrini/Acervo pessoal)
Foto: Elenice Cerrini/Acervo pessoal As lesões ocasionadas pela herpes-zóster em Elenice surgiram abaixo do seio e se estenderam até as costas

Depois de alguns dias sem usar a peça, Elenice continuava a sentir dor. Foi aí que decidiu procurar ajuda médica: “Tomei analgésicos, mas a dor não passava de jeito nenhum. Pelo contrário, ia aumentando. Aí comecei a sentir mal-estar e quando fui tomar banho vi umas bolhas esquisitas. No dia seguinte fui ao hospital e a médica que me atendeu falou na hora que era herpes-zóster”.

A experiência da professora, que começou com um desconforto, acabou revelando uma doença que ainda é desconhecida por muitos, mas que tem se tornado cada vez mais comum no Brasil — principalmente entre pessoas idosas.

O herpes-zóster, popularmente conhecido como “cobreiro”, é uma reativação do vírus varicela-zóster (VVZ), o mesmo que causa a catapora.

Quem já teve catapora tem o vírus “adormecido” no corpo e, com o tempo, ele pode “acordar” e causar a doença, que se manifesta por meio de bolhas que coçam e ardem.

Essas lesões surgem geralmente no tronco, braços, pernas, ou, em casos mais raros, nos ouvidos.

Antes de surgirem as erupções avermelhadas na pele, bolhas e úlceras, os pacientes de HZ podem apresentar coceira, formigamento, febre, dor de cabeça e mal-estar — como foi o caso de Elenice, diagnosticada em setembro de 2023.

Na época, ela usou a internet para pesquisar sobre o assunto e passou a integrar um grupo no Facebook com mais de 3 mil pessoas que utilizam a plataforma para trocar experiências, tirar dúvidas e pedir orientações sobre a doença.

Vírus da Varicela zoster (Foto: Tatiana Shepeleva / AdobeStock)
Foto: Tatiana Shepeleva / AdobeStock Vírus da Varicela zoster

No fórum, usuários de todo o País compartilham aflições como as de Eliette Santiago, de São Paulo (SP): “As sequelas acabam com a alegria da gente. A medicação ajuda na dor, mas me deixa com a coordenação motora ruim. Quase não saio mais de casa e já engordei cinco quilos”.

“Tomei penvir, pregabalina, dual, etna, citoneurin, vitamina C, complexo B, centrun pró-imunidade, pomada de aciclovir. Atualmente tenho períodos com menos dor alternados com dor intensa, mas sinto dor diariamente. Uso pomada de lidocaína e, quando está muito forte, tomo tramal. Faço acupuntura uma vez por semana. Se eu me aborrecer, coça demais”, desabafa Rita Christina, de Salvador (BA).

Por ser uma doença viral pouco conhecida e que pode causar complicações neurológicas graves e prolongadas, a herpes-zóster afeta qualidade de vida, funcionalidade e autoestima de muitos pacientes, que relatam dores incapacitantes, algumas com queimação e sensação semelhante a de choques elétricos.

Sintomas de herpes-zóster

 

Mas os sintomas e as sequelas não são os únicos problemas; para essas pessoas, até chegar a um diagnóstico pode ser complicado.

Foi o caso da recifense Elaine Lobo, de 68 anos, por exemplo, erroneamente diagnosticada com escabiose em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). “O medicamento para escabiose só fez piorar a situação”, expõe.

Depois de uma consulta particular, veio o diagnóstico correto e o tratamento — que também não tem sido fácil, segundo ela: “Estou sofrendo com a neuralgia há 1 ano e 3 meses, tomo gababentina e ainda mexe muito com meu psicológico e minha coordenação motora. Fico estranha, esqueço as coisas, mas como ameniza a dor ainda não parei”.

Erupção cutânea e bolhas no corpo causada pelo vírus Herpes-zoster . Além das bolhas no corpo, dores muito fortes, dificuldade para se mover, dormir ou mesmo tomar banho são alguns dos sintomas associados ao HZ(Foto: AdobeStock)
Foto: AdobeStock Erupção cutânea e bolhas no corpo causada pelo vírus Herpes-zoster . Além das bolhas no corpo, dores muito fortes, dificuldade para se mover, dormir ou mesmo tomar banho são alguns dos sintomas associados ao HZ

A neuralgia pós-herpética "A neuralgia, também chamada de nevralgia, é a dor provocada por nervos danificados ou irritados. Além de dor, às vezes podem ocorrer dormência, formigamento ou outras sensações desagradáveis ao longo do nervo. Pós-herpética é o nome dado quando essa dor crônica ocorre em áreas da pele supridas por nervos que foram infectados pelo herpes-zóster (cobreiro)." que Elaine sente é uma dor intensa que pode durar meses e até anos. Trata-se de uma das complicações mais comuns e, em alguns casos, pode afetar os olhos e causar problemas de visão.

Lobo menciona que tem aguardado esperançosa a chegada do CBD, o óleo de canabidiol que tem ganhado forte apoio de grupos de pacientes que experimentaram alívio e melhora das dores crônicas.

Desde que o Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos aprovou o CBD como epidiolex "O epidiolex utiliza o canabidiol (CBD) como componente ativo, uma das moléculas que podem ser obtidas da planta da maconha.

"
para tratar a epilepsia em crianças e adultos, o reconhecimento social dos produtos à base de cannabis e óleo de CBD para uso eventual tem aumentado.

Recentemente, produtos à base da planta têm sido utilizados para aliviar sintomas associados ao autismo, como ansiedade, dificuldade de interação social, insônia e agressividade, por exemplo.

Depois de usar “tudo o que todo mundo indica”, o CBD é mais uma tentativa de Elaine em busca do alívio das dores que sente desde que o HZ entrou em sua vida.

Isso porque o HZ interfere na rotina familiar, profissional e social dos pacientes — daí a importância de buscar informação, prevenção e tratamento adequados.

O tratamento do paciente que não apresenta quadro grave geralmente é feito em regime ambulatorial. O uso de retrovirais como o aciclovir, se iniciado em até 72 horas após o surgimento do rach cutâneo, podem reduzir a incidência da neuralgia pós-herpética. As opções terapêuticas são aciclovir, fanciclovir e valaciclovir.

O Centro de Pesquisas em Doenças Inflamatórias (Crid) conseguiu desvendar o mecanismo que gera a dor aguda e que também contribui para o desenvolvimento de dor crônica em pacientes com HZ(Foto: Adaptado de ContraVir Pharmaceuticals)
Foto: Adaptado de ContraVir Pharmaceuticals O Centro de Pesquisas em Doenças Inflamatórias (Crid) conseguiu desvendar o mecanismo que gera a dor aguda e que também contribui para o desenvolvimento de dor crônica em pacientes com HZ

Todos os pacientes que apresentam quadro de HZ facial devem solicitar avaliação oftalmológica para descartar acometimento ocular.

Já para os que estão com neuralgia pós-herpética, existem diversas opções de tratamento. A primeira linha consiste no uso de antidepressivos tricíclicos e anticonvulsivantes. Outras opções como o creme de capsaicina e a lidocaína em gel também podem ser utilizadas.

Essa doença tende a acontecer mais em idosos porque, com a idade, o sistema de defesa do corpo (imunidade) fica mais fraco, o que pode tornar o vírus ativo novamente.

Mas os jovens não estão imunes e a idade avançada não é o único fator que torna alguém mais vulnerável: pessoas com baixas defesas no organismo, como as transplantadas ou que têm doenças crônicas como hipertensão, diabetes, câncer e HIV, também estão sujeitas a evoluções mais sérias.

Herpes-zóster: uma doença que cresce e ainda é pouco conhecida

 

É o que explica o infectologista Antônio Mauro, presidente da Sociedade Cearense de Infectologia (SCI). Ele aproveita para diferenciar herpes-zóster de outras formas de herpes, como o labial e o genital — uma confusão que é bastante comum.

“Embora o nome seja parecido, o herpes-zóster afeta geralmente uma parte do corpo, como costas ou rosto, e é mais doloroso. Já o herpes labial e genital afetam a boca e as áreas íntimas, respectivamente”, explana.

Conforme aponta o médico, dados indicam uma incidência maior de casos de HZ no mundo inteiro após a pandemia de Covid-19, mas ainda não há comprovações científicas que demonstrem essa relação.

O médico infectologista Antonio Mauro é presidente da Sociedade Cearense de Infectologia (SCI)(Foto: Antonio Mauro/Acervo pessoal)
Foto: Antonio Mauro/Acervo pessoal O médico infectologista Antonio Mauro é presidente da Sociedade Cearense de Infectologia (SCI)

Fato é que o coronavírus SARS-CoV-2 “enfraquece o sistema de defesa do corpo, permitindo que o vírus do herpes-zóster se ative”, e que “o estresse, a queda da imunidade e as mudanças na saúde geral durante a pandemia podem ter ajudado a aumentar os casos”.

Em 2023, mais de 4 mil pessoas foram internadas por conta de HZ no Brasil, número 14% maior que o do ano anterior e 37% superior às internações ocorridas em 2021 — como mostra o gráfico a seguir.

Durante a fase aguda, os pacientes são infecciosos e contagiosos para outras pessoas e devem ser orientados a evitar contato com idosos, pessoas imunocomprometidas, mulheres grávidas e pessoas sem histórico de infecção por varicela.

“Se você tem lesões (feridas) de herpes-zóster, evite o contato direto com pessoas que nunca tiveram catapora ou não foram vacinadas contra ela, pois você pode passar o vírus para elas e causar catapora. Cubra as lesões e lave as mãos com frequência”, orienta o presidente da SCI.

Segundo o infectologista, “o HZ geralmente não é transmitido de uma pessoa para outra de forma respiratória. No entanto, quem tem lesões de herpes-zóster pode passar o vírus para alguém que nunca teve catapora ou não foi vacinado contra ela. Nesse caso, a pessoa infectada não vai ter herpes-zóster, mas sim catapora”.

“A transmissão acontece pelo contato direto com o líquido das bolhas de quem está com a doença ativa. Ou seja, se uma pessoa toca nas bolhas de alguém com herpes-zóster e nunca teve catapora, ela pode pegar o vírus”, destaca.

“Por isso, quem está com a doença deve cobrir as lesões e evitar contato próximo com pessoas que não tiveram catapora, especialmente grávidas, bebês e pessoas com imunidade baixa, para não transmitir o vírus”, completa.

Internações por herpes-zóster no Brasil (2020 - 2024)

 

Em Fortaleza, o número de atendimentos por herpes-zóster na rede pública de saúde também tem registrado um progressivo aumento, como evidencia o gráfico a seguir.

Procurada, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que os usuários que suspeitam de herpes-zóster, também conhecido como cobreiro, podem buscar os 134 postos de saúde de Fortaleza para consulta inicial e tratamento.

“As unidades são a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), que ofertam atendimento médico na área de clínica geral, bem como outros serviços da atenção primária à saúde”, diz o comunicado.

Ocorrência de atendimentos por herpes-zóster nos postos de saúde de Fortaleza (2021 - 2024)

 

A pasta acrescenta que “a vacina contra a infecção viral causada pelo vírus varicela-zóster, que traz proteção contra o cobreiro e a neuralgia pós-herpética, não faz parte do Calendário Nacional de Imunização (CNI). O SUS disponibiliza a vacina varicela (atenuada), utilizada para prevenir o vírus da catapora, administrada em duas doses, a partir dos 12 meses de idade”.

O tratamento varia de acordo com a gravidade de cada caso e pode incluir antivirais tópicos, corticosteroides, colírios anti-inflamatórios e analgésicos para aliviar a dor associada à neurite óptica.

É importante seguir as orientações médicas, realizar consultas de acompanhamento e manter a área afetada limpa para evitar o contágio.

 

 

Herpes-zóster: vacina pode chegar a R$ 1,7 mil; projeto para inclusão no SUS tramita na Câmara

O aumento dos casos de herpes-zóster no Brasil e no mundo tem chamado a atenção de autoridades e profissionais da saúde, principalmente após a emergência da pandemia de Covid-19.

Muito além das conhecidas feridas pelo corpo, a virose pode ensejar quadros agudos de infecção que comprometem os músculos da face e a estrutura do canal auditivo.

Foi o caso da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos no governo Bolsonaro. Diagnosticada com herpes-zóster, ela enfrentou um quadro de paralisia facial devido a uma recaída causada pelo vírus em 2023, quando chegou a ser internada em Brasília.

 

A atriz Cláudia Rodrigues, o apresentador Fernando Rocha e até o cantor canadense Justin Bieber estão entre famosos que também tiveram herpes-zóster recentemente e falaram sobre o assunto.

No caso de Bieber, que teve complicações semelhantes às de Damares, o artista precisou desmarcar shows e pausar a turnê que fazia nos Estados Unidos.

Em seguida, publicou um vídeo com metade do rosto paralisado e disse aos fãs que havia sido diagnosticado com a rara síndrome de Ramsay Hunt, que ocorre quando um surto de herpes-zóster afeta um nervo do rosto próximo às orelhas.

Vacina para herpes-zóster da farmacêutica GSK, que promete eficácia de até 97% contra a doença(Foto: GSK/Divulgação)
Foto: GSK/Divulgação Vacina para herpes-zóster da farmacêutica GSK, que promete eficácia de até 97% contra a doença

A vacina é uma forma eficaz de prevenção, mas atualmente não está disponível no Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Sistema Único de Saúde (SUS) para toda a população brasileira.

A imunização completa (duas doses) é encontrada apenas no mercado privado, com um custo que pode chegar a R$ 1,7 mil.

Em algumas clínicas e laboratórios particulares, o imunizante custa entre R$ 764,10 e R$ 879 a dose.

A vacina disponível hoje contra a herpes-zóster é a Shingrix, da farmacêutica GSK, que chegou ao Brasil em junho de 2022 e é aplicada com um intervalo de dois meses.

O imunizante recombinante inativado utiliza a proteína do vírus e promete uma imunização de 11 anos.

O projeto de lei (PL) 291/24 inclui as vacinas conjugadas pneumocócica 15-valente (VPC15) e contra a HZ (cobreiro) no calendário nacional de vacinação do adulto e idoso.

De acordo com o autor da proposta, o deputado cearense Domingos Neto (PSD/CE), “observa-se a persistência de complicações graves associadas à infecção pneumocócica, como meningite e sepse, que inevitavelmente contribuem para o ônus nos sistemas de saúde”.

E acrescenta: “A inclusão da VPC15 no calendário vacinal do SUS pode reverter esse quadro, reduzindo significativamente o número de casos e, por consequência, aliviando a carga sobre os serviços de saúde”.

O deputado também defende que, em caso de opção pela aplicação em clínicas privadas, os cidadãos possam ser ressarcidos dessa despesa pelos planos de saúde já contratados por eles.

Justin Bieber, um dos famosos que precisou adiar tournée por causa do Herpes zóster(Foto: ROBYN BECK / AFP)
Foto: ROBYN BECK / AFP Justin Bieber, um dos famosos que precisou adiar tournée por causa do Herpes zóster

A proposição tramita na Câmara dos Deputados e a última movimentação aconteceu em agosto, quando a discussão foi retirada de pauta em razão de ausência do relator.

A vacina é indicada para pessoas a partir de 50 anos, sobretudo para aquelas que tiveram contato com o vírus no passado.

Além disso, o imunizante é recomendável para pessoas com mais de 18 anos que possuem algum tipo de imunossupressão, a exemplo das que tiveram alguma infecção viral como Covid-19; portadoras de comorbidades (HIV, esclerose múltipla, lúpus, câncer, diabetes, etc); ou as que vão se submeter a transplantes.

Bolhas de herpes zoster no pescoço e ombros(Foto: John Pozniak/Wikimedia Commons)
Foto: John Pozniak/Wikimedia Commons Bolhas de herpes zoster no pescoço e ombros

Mônica Levi, médica e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que a inclusão da vacina no SUS para grupos de risco está em discussão.

Por enquanto, o que a rede pública de saúde oferece às crianças, através do PNI, é a vacina contra a catapora (varicela).

Ocorre que a viabilidade da incorporação do imunizante ao SUS leva em conta critérios técnicos, científicos e de logística, além de evidências epidemiológicas e de eficácia e segurança do produto.

A médica Mônica Levi é presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)(Foto: Divulgação/SBIm)
Foto: Divulgação/SBIm A médica Mônica Levi é presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)

“Uma vacina de alto custo tem de passar por todos os critérios para a aprovação, inclusive não só do ponto de vista técnico, mas também do ponto de vista que é levado em consideração na inclusão de qualquer nova vacina, que é o custo-benefício”, salienta.

“O aumento nos casos durante a pandemia trouxe mais visibilidade para a doença, mas ainda há um longo caminho a percorrer em termos de conscientização. Falta informação e o principal obstáculo é a vacinação robusta”, conclui Levi.

Conforme ressaltou o Ministério da Saúde ao O POVO+, embora a herpes-zóster não seja uma doença de notificação compulsória "Uma doença de notificação compulsória ou obrigatória é qualquer doença que a lei exija que seja comunicada às autoridades de saúde pública. Os dados permitem monitorizar e antever possíveis surtos." , dados sobre internações relacionadas à varicela e herpes-zóster estão disponíveis no Sistema de Informação Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS).

Em nota, o órgão reforçou as principais medidas de prevenção e controle contra a disseminação do vírus VVZ: “lavar as mãos após tocar nas lesões; isolamento (crianças com varicela não complicada só devem retornar à escola após todas as lesões terem evoluído para crostas)”.

“Crianças imunodeprimidas ou que apresentem curso clínico prolongado só deverão retornar às atividades após o término da erupção vesicular; pacientes internados (isolamento de contato e respiratório até a fase de crosta); desinfecção (concorrente dos objetos contaminados com secreções nasofaríngeas); imunoprofilaxia em surtos de ambiente hospitalar”, ratifica a pasta.

Bolhas causadas por herpes zoster no corpo de uma jovem: comichão e vermelhidão nas costas (Foto: AdobeStock)
Foto: AdobeStock Bolhas causadas por herpes zoster no corpo de uma jovem: comichão e vermelhidão nas costas

A reportagem questionou o MS sobre os desafios para a incorporação da vacina na rede pública e se existem medidas para facilitar o acesso a essa imunização a populações mais vulneráveis.

Também perguntou se o órgão considera a possibilidade de incluir essa doença na lista de enfermidades com notificação compulsória devido ao aumento de casos e às complicações graves associadas a ela. Sobre esses pontos, não houve resposta.

Enquanto isso, para pacientes como Elenice, a batalha contra as sequelas da doença continua. “Hoje estou melhor, mas ainda sinto as consequências. A vacina será meu próximo passo para tentar evitar que isso aconteça de novo”, finaliza a professora.

 

 

>>Artigo

É mais caro não se vacinar !!

Por Mário Mamede*

No dia 27 de março de 2023 recebi diagnóstico de herpes zoster facial, atingindo o ramo superior do nervo trigêmeo a direita, região ocular, frontal, temporal, e até região nasal. Por uma sorte lotérica, a virose atingiu o meu olho direito que já era cego em decorrência de um grave descolamento de retina. Caso o lado atingido tivesse sido o esquerdo eu estaria em condições de deficiência visual total.

Mário Mamede, médico(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Mário Mamede, médico

O herpes zoster, popularmente conhecido como cobreiro, é causado pelo mesmo vírus da catapora que acometeu grande número de pessoas que hoje estão na faixa de 50 anos a mais. Ele pode se manifestar em várias partes do corpo comprometendo um ramo nervoso.

Mesmo sendo médico, nunca me alertei ou cheguei a ser alertado da importância de fazer a vacinação preventiva para o herpes zoster. Recentemente foi disponibilizada uma mais moderna com cerca de 95% de capacidade imunizante.

Do dia 27 de março até hoje tenho passado por algumas etapas da enfermidade e suas sequelas. A primeira, e talvez a mais difícil, foi aquela em que a dor é intensa, quase insuportável, obrigando os médicos a recorrerem medicações analgésicas e sedativas pesadas para aliviarem o meu sofrimento.

Amenizada essa fase aguda, segue-se uma sintomatologia muitas vezes difícil de explicar e mais ainda de traduzir em palavras --- pontadas, queimação, choques tipo elétricos, sensação de formigas caminhado sobre a região. Claro que, com o passar do tempo e a terapêutica medicamentosa, esses incômodos vão ficando menos intensos, podendo desaparecer. No entanto, em 5% dos casos eles se continuam por um ano ou mais (como é o meu caso) e em cerca de 2% acompanham o paciente até a missa de sétimo dia.

Muitas vezes, quando oriento as pessoas a se vacinarem, muitos reclamam do preço. Bem mais caro é o custo de medicação durante um largo tempo, como muitas vezes é necessário. No meu caso, continuo a fazer uso até hoje. Sem falar no prejuízo para a qualidade de vida que o herpes zoster pode significar, o que não pode ser quantificado. Acreditem, essa enfermidade é realmente capaz de nos causar muitas mazelas, seja no plano pessoal, social, laboral e porque não dizer, no plano econômico.

Mário Mamede é médico

"Oie :) Aqui é Karyne Lane, repórter do OP+. Te convido a deixar sua opinião sobre esse conteúdo lá embaixo, nos comentários. Até a próxima!"

 

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