Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN
Está mais para gato, depois de ser produzido sobre o chassis de um Ford e agora pular para uma plataforma chinesa
“O mais belo automóvel do mundo” foi o que disse Enzo Ferrari no Salão de Genebra de 1961, não para um carro seu, mas diante do E-Type no estande da Jaguar, lançamento que reforçou sua icônica imagem de luxo e esportividade.
Mas o carma que afligiu a todas as lendárias marcas inglesas (sobrou só a Aston Martin...) não poupou a Jaguar que esteve nas mãos da Ford de 1989 até 2008, quando foi comprada pela indiana Tata, juntamente com a Land Rover.
Tantos foram os altos e baixos da Jaguar que ela já teve um modelo baseado num chassis do Ford Mondeo (o X-Type produzido entre 2001 e 2009 nas versões sedã e perua) e a notícia de que os próximos (eletrificados) serão baseados em plataformas chinesas.
A marca sempre tentou competir em vários segmentos. Na década passada, com sedãs, esportivos e SUVs. Mas ela sempre teve também dificuldade em superar a imagem de pouca confiabilidade e mecânica complexa, além das tradicionais panes elétricas provocadas pelo seu antigo (e duvidoso) fornecedor de componentes, a também inglesa Lucas.
Conhecida jocosamente como “Prince of Darkness” (Principe da Escuridão...). A fábrica trocou-a pela Bosch, mas a imagem ficou, com problemas mais recentes em motores, bombas d’água e turbinas.
O desgaste da marca chegou ao ponto de seu CEO, Tierry Bolloré, numa assembleia com acionistas em 2021, afirmar que a JLR (Jaguar Land Rover) tinha perdido cerca de 100 mil vendas globais em 2020 devido a problemas de qualidade.
As vendas despencaram de 530 mil unidades em 2019 para 425 mil em 2020. A respeitada empresa norte-americana de pesquisa, a JD Power, classifica todas as marcas vendidas nos EUA de acordo com a qualidade, aferida pelo número de problemas registrados depois de um e três anos de uso.
As duas inglesas, Jaguar e Land Rover, sempre estiveram no “podium às avessas”, entre as cinco piores durante anos consecutivos.
O atual CEO (Bolloré demitiu-se meses depois da desastrada declaração), Adrian Mardell, disse este ano estar eliminando cinco modelos da JLR pois nenhum deles é rentável. E que serão substituídos por novos projetos, todos elétricos e a serem lançados a partir de 2025.
Fácil supor que serão híbridos e elétricos além de ter arquitetura projetada pela chinesa Chery, pois já existe uma parceria de anos entre as duas empresas.
Um diretor da JLR declarou recentemente que a ideia da empresa é lançar seis modelos elétricos ou PHEV (híbridos plug-in) compartilhados com o Exeed, (modelo de luxo da Chery), renovando toda sua linha, inclusive os atuais elétricos.
O que confirma as informações de que a Jaguar pretende subir a régua e competir diretamente com marcas premium como Bentley, Rolls, Mercedes, BMW e Porsche.
Considerando-se os problemas de imagem dessas marcas inglesas, é pouco provável que um Jaguar tenha condições de competir com modelos de altíssimo padrão como Bentley, Porsche e outras deste calibre.
No mercado brasileiro, ambas são vistas com certa desconfiança principalmente pelos graves problemas no pós-venda.
Na linha Range Rover, motores turbinados foram pesadelo de centenas de seus donos. O incrível custo para se trocar uma correia dentada, que obrigava a oficina a deslocar a carroceria do chassis devido à complexa engenharia inglesa, afastou muitos potenciais clientes da marca.
Outra questão é a fábrica que a JLR mantem no interior do Estado do Rio, em Itatiaia, onde são montados alguns de seus modelos. A ociosidade levou a empresa a sublocar alguns de seus espaços e até a instalar uma oficina para restauração de carros antigos das marcas.
Ela mantém a fábrica forçada por um contrato com o governo do Rio de Janeiro. Mas a completa mudança nas arquiteturas de Jaguar e Range Rover torna seu futuro ainda mais incerto.
Jornalistas da badalada revista norte-americana “Car and Driver” num teste de longa duração de um sedã Jaguar dos anos 90, adoraram o carro mas tiveram que leva-lo à oficina algumas vezes. E resumiram o teste dizendo “é o melhor carro do mundo...quando anda”.
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